Não há como "pagar por pecados". Quando
eu decido sair desse mundo de culpa e de pecado – esse mundo imaginário que a
única coisa que pode me oferecer é uma imitação de paz, por sinal, uma paz imaginária –
então saio e não volto mais. A única forma é sair desse mundo, esse mundo da
ilusão do pecado, da culpa, de julgamento e de condenação. É apenas uma decisão
e pronto, estás fora.
Eu sei de uma história que sempre me impressionou
muito. Uma mãe estava a fazer marcha-atrás na garagem e não reparou que a filha
de 3 anos estava atrás do carro e esmagou a criança contra a parede. Ela sofreu
tanto com a culpa que imaginava que a criança, a qual ela tanto amava, voltaria
um dia e que tudo não tinha passado de um sonho mau. Sempre pensei, puxa, o que
aconteceu a essa mãe? Que sofrimento intolerável! Será que ela alguma vez se
livrou da culpa? será que ela voltou a ser feliz? Mas por outro lado, será que
ela foi feliz pela primeira vez? Porque uma pessoa assim não é feliz nunca
mesmo se não tivesse acontecido aquele acidente, porque está debaixo dessa
crença.
É aquela obsessão com o pecado e a morte que diz, o
pecado merece a morte. “O salário do pecado é a morte”. Eu nunca percebi nem
gostei dessa frase da bíblia, porque fui ensinado que eu faço pecados, e se
faço pecados a consequência deles é a morte, e ela vem mais cedo ou mais tarde,
segundo essa crença. Se acreditas no pecado acreditas que mereces a morte,
porque diz a bíblia que “todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus”.
Como assim!? Como é que a religião quer libertar as pessoas se ao mesmo tempo
ensina essas grandes contradições? Como é que eu posso acreditar nisso e ao
mesmo tempo acreditar que “eu vou para o céu?” Que contradição horrorosa.
Desculpem a minha irritação.
A culpa e o pecado são imaginários. Mil anos de
culpa não me curam de nada. Nem sequer um milhão de anos de culpa. Só fico
curado quando sair dessa porcaria e viver na luz. “O dom gratuito de Deus é a
vida eterna”, também diz a bíblia. A religião ensina a existência do pecado e
ao mesmo tempo a existência do dom gratuito de Deus. São duas coisas que não
combinam. Ou há uma coisa ou há outra. Ambas não podem coexistir.
É como o medo e o amor. Não podem coexistir. O medo
afasta, o amor aproxima. Como podem dizer que eu tenho que “temer a Deus” e ao
mesmo tempo tenho que “amar a Deus sobre todas as coisas”? Amar por medo? Se eu
tenho medo de Deus eu afasto-me Dele, automaticamente. Mas se Deus é amor eu
sou atraído para Ele. -- São as contradições da religião.
Mas depois, para consertar todas essas contradições,
eles vêm com uma estória dizendo que “Jesus morreu por nós e se o aceitarmos
então estamos fora dessa maldição”. Se Jesus deu a vida por mim, foi a vida que
ele deu e não a morte, ele viveu por mim. A morte dele não me trouxe nada de
bom, nem a mim nem a ele. A vida dele sim. O que ele disse foi “espírito e
vida”. “Eu sou o pão da vida”. A morte dele não traz nada de bom, se ele
tivesse permanecido nela estávamos todos em trevas. Com a morte não vem nada de
bom, com a vida vem tudo de bom. Só a vida existe, repito, só a vida existe!
Enfim, esta é a teoria geral. A dificuldade está a
colocar isto tudo em prática. Enquanto em mim existir a crença do pecado e da
culpa estou ferrado, e pensar que “Jesus morreu por mim” não me adianta nada,
antes pelo contrário. Mas se eu decido deitar fora essa merda, então eu vivo ao
lado de Jesus. Mas enquanto eu tiver alguma inclinação para gostar da culpa e
sentir atração pela crença do pecado, estou em trevas e nada me faz bem.
Viva a vida. Se o inferno existe é por decisão
minha somente e também por decisão minha somente eu saio dele para não voltar
mais.