Dissertações e Observações

Tuesday, 22 October 2019

Deixa comigo e sai desse inferno.

Há pais que perdem os filhos. Às vezes por razões pelas quais eles se consideram culpados. Essa culpa causa um sofrimento enorme porque a criança não volta mais. Enquanto essa culpa permanecer eles vivem no inferno. É uma decisão que escolhem, viver no inferno para "pagar pelos seus pecados". Eles só saem desse inferno no dia em que dizem, “eu vou sair deste inferno. Não quero viver mais nele. Não faz parte de mim. Decido sair daqui”, nesse dia saem para não voltar mais. É a única forma.
Não há como "pagar por pecados". Quando eu decido sair desse mundo de culpa e de pecado – esse mundo imaginário que a única coisa que pode me oferecer é uma imitação de paz, por sinal, uma paz imaginária – então saio e não volto mais. A única forma é sair desse mundo, esse mundo da ilusão do pecado, da culpa, de julgamento e de condenação. É apenas uma decisão e pronto, estás fora.
Eu sei de uma história que sempre me impressionou muito. Uma mãe estava a fazer marcha-atrás na garagem e não reparou que a filha de 3 anos estava atrás do carro e esmagou a criança contra a parede. Ela sofreu tanto com a culpa que imaginava que a criança, a qual ela tanto amava, voltaria um dia e que tudo não tinha passado de um sonho mau. Sempre pensei, puxa, o que aconteceu a essa mãe? Que sofrimento intolerável! Será que ela alguma vez se livrou da culpa? será que ela voltou a ser feliz? Mas por outro lado, será que ela foi feliz pela primeira vez? Porque uma pessoa assim não é feliz nunca mesmo se não tivesse acontecido aquele acidente, porque está debaixo dessa crença.
É aquela obsessão com o pecado e a morte que diz, o pecado merece a morte. “O salário do pecado é a morte”. Eu nunca percebi nem gostei dessa frase da bíblia, porque fui ensinado que eu faço pecados, e se faço pecados a consequência deles é a morte, e ela vem mais cedo ou mais tarde, segundo essa crença. Se acreditas no pecado acreditas que mereces a morte, porque diz a bíblia que “todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus”. Como assim!? Como é que a religião quer libertar as pessoas se ao mesmo tempo ensina essas grandes contradições? Como é que eu posso acreditar nisso e ao mesmo tempo acreditar que “eu vou para o céu?” Que contradição horrorosa. Desculpem a minha irritação.
A culpa e o pecado são imaginários. Mil anos de culpa não me curam de nada. Nem sequer um milhão de anos de culpa. Só fico curado quando sair dessa porcaria e viver na luz. “O dom gratuito de Deus é a vida eterna”, também diz a bíblia. A religião ensina a existência do pecado e ao mesmo tempo a existência do dom gratuito de Deus. São duas coisas que não combinam. Ou há uma coisa ou há outra. Ambas não podem coexistir. 
É como o medo e o amor. Não podem coexistir. O medo afasta, o amor aproxima. Como podem dizer que eu tenho que “temer a Deus” e ao mesmo tempo tenho que “amar a Deus sobre todas as coisas”? Amar por medo? Se eu tenho medo de Deus eu afasto-me Dele, automaticamente. Mas se Deus é amor eu sou atraído para Ele. -- São as contradições da religião.
Mas depois, para consertar todas essas contradições, eles vêm com uma estória dizendo que “Jesus morreu por nós e se o aceitarmos então estamos fora dessa maldição”. Se Jesus deu a vida por mim, foi a vida que ele deu e não a morte, ele viveu por mim. A morte dele não me trouxe nada de bom, nem a mim nem a ele. A vida dele sim. O que ele disse foi “espírito e vida”. “Eu sou o pão da vida”. A morte dele não traz nada de bom, se ele tivesse permanecido nela estávamos todos em trevas. Com a morte não vem nada de bom, com a vida vem tudo de bom. Só a vida existe, repito, só a vida existe!
Enfim, esta é a teoria geral. A dificuldade está a colocar isto tudo em prática. Enquanto em mim existir a crença do pecado e da culpa estou ferrado, e pensar que “Jesus morreu por mim” não me adianta nada, antes pelo contrário. Mas se eu decido deitar fora essa merda, então eu vivo ao lado de Jesus. Mas enquanto eu tiver alguma inclinação para gostar da culpa e sentir atração pela crença do pecado, estou em trevas e nada me faz bem.
Viva a vida. Se o inferno existe é por decisão minha somente e também por decisão minha somente eu saio dele para não voltar mais.


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